sexta-feira, 20 de maio de 2011

E se ocorresse assim?

O desejo acarreta uma série de fatores mentais, psicológicos que nos indica necessidades urgentes ou não. Se aquele menino não tivesse dito a um rapaz que passara pela rua: moço, pode me ajudar? o rapaz não o observaria e não notaria que havia alguém ali, pois este andara cabisbaixo. Mas não adiantou muito, pois de nada serviu a intervenção por parte da criança que, ainda desconsolada, tentara uma aproximação com alguém que tivesse dó dele. Ele desejou uma pessoa que o olhasse e percebesse naquilo tudo o quão duro é a vida e que esta pessoa quebrasse essa dureza que parecia e era tão forte quanto não sei o que. Diante do desejo não realizado, tirou-se por instinto e, desenfreado, chorou... Nestas lágrimas seu rosto se banhou e seus olhos embaçaram e sua mente flutuou e nada mais havia de acontecer. Ah havia sim, pois o menino, ainda desenfreado, meio inconsciente consciente saiu pela rua e foi atropelado. Detalhe que ele morreu atrapalhando o tráfego (Chico Buarque) e conseguiu encontrar sua parte no mundo: a cova que estava (João Cabral) no cemitério da vida: que é, na verdade, a vida propriamente. Mas se o rapaz tivesse parado e dado alguns centavos ao menos àquela criatura, talvez o incidente não tivesse ocorrido. E ainda mais: se a criatura cabisbaixa o olhasse bem nos olhos e tivesse pena, dó, e o tivesse levado para casa, a criança iria ter estudos e poderia um homem fantástico. E eles poderiam brincar e ser felizes, e poderiam ser mais que tudo: pai e filho. E eles iriam brigar como pai e filho; iriam chorar como pai e filho; iriam rir como uma família de um só pai e um só filho. Mas não! O homem estava também cansado da vida: queria nada com ninguém e enfim, o que lhe acontecera, e o que pensara? E se aquele criança tivesse tido estudo, poderia ser um médico, ou um professor, ou um Nobel. Pode ser exagero daquele que escreveu estas páginas da vida. Pode ter agido inconsciente aquele menino. Pode nem ter visto a criança o rapaz cabisbaixo.

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