"O mundo é um
mosaico de pontos de vista". A máxima do filósofo, de cujo nome já me perdi, é
aberta ao mundo dos acontecimentos. Não é o mundo dado da natureza. É o mundo das ações,
dos sentimentos, dos afetos. Ser
humano é ser pontos de vista. É pôr os óculos da existência, aquele que nos
permite acontecer; ser o mais alto acontecimento. Quando trocamos os óculos,
falamos de outra posição, enxergamos diferente. Sobre todos os
óculos presentificam-se o que de mais volitivo habita em nós; cada palavra do outro, que vem a mim, que faz um furo em meu ser, que contribui com uma pedra a mais colocada
sobre essa muralha ontológica.
Voltei aos
velhos óculos, os do estar só. Você permitiu-me acontecer naquelas noites de
setembro, quando cada palavra sua fez-me diferente, fora de mim. Era um estado de
plenitude e uma alegria ingênua, doce, lembrando o tempo de criança, quando
corria pela rua, atrás de bola, e caía no chão, ainda sem saber que a vida é o
maior dos desperdícios. Voltei ao tempo em que os óculos eram-me impostos pelo
existir. Uma obrigação infantil.
Retornei aos velhos óculos, quando me deixei por inteiro e permiti que a vida se
impusesse mais uma vez. Não custou demora: num sobressalto de
ilusão, eu perdi as forças, não dei por mim, cavei cada palmo de terra para
enterrar o estar feliz momentâneo de uma só vez: em uma indiferença você falou. Perdi minha maior face, uma esperança. Os óculos daquele momento, de pura felicidade, porque o mundo era
lindo e eu sorria feliz, foram severamente esmagados pelo
seu silêncio. O mau do retorno. E,
palavra, retornar dói sempre mais.
De todas as
maneiras que há de sentir, eu -te- senti. Senti distante, por cada palavra.
Bem, desse
mosaico de pontos de vista; de óculos que pomos e tiramos, a todo instante,
ainda que inconscientemente, hoje minha vida sabe a valer isto: nada. Estagnei no mundo e nada tenho; até as poesias deram por perdido e debandaram-se.
Algo, no entanto, ainda me move: a espera de te ver passar e lembrar que as tuas palavras, antes do silêncio, permitiam-me enxergar por óculos de felicidade; o dia em que fui mais feliz.
Algo, no entanto, ainda me move: a espera de te ver passar e lembrar que as tuas palavras, antes do silêncio, permitiam-me enxergar por óculos de felicidade; o dia em que fui mais feliz.
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