sábado, 28 de maio de 2011

somos o alimento da terra

As flores do campo brilham ainda, com há muitos anos brilhava. As pessoas não são as mesmas: outras crianças brincam no pátio e os pais de cada uma são mais velhos. Todos parecem está tão felizes, como estive também naquele tempo, neste mesmo lugar. Estava bem sentado aqui, onde estou agora relembrando aquele passado. Os vermes ainda me esperam e eu estou, penso, atrasado demais. Ainda consigo ver o horizonte e observar o sol nascer; ainda consigo ver o verde da grama e sentir o amaciar da areia. Mas sinto que não falta tanto também. É como se as imagens fossem ficando preto e branco; como se a grama fosse perdendo a cor e a areia não me causasse mais nada; como se as pessoas passassem e eu nem notasse mais... As crianças ainda correm, embora mal consiga vê-las. Agora mesmo aqueles bichos para quem fomos feitos estão sentindo o cheiro do meu corpo e sabem que ali estarei em instantes. Eles sabem o início e a chegada. Aos poucos vou deixando de reconhecer as pessoas, que também já não me conhecem. As minhas forças estão se perdendo. Minhas palavras ficam soltas no ar e o vento as leva para bem longe, onde só os pássaros as entende. Penso muito pouco. Os olhos se fecham!

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